DONA ZINHA,
UMA GUERREIRA

Zahyr (Zair) Machado da Silva, a famosa DONA ZINHA, nasceu no dia 1º de novembro de 1931 no bairro Sambaqui, seus pais o pescador Raimundo Pereira Machado e Laura Diamantina Machado.

A quinta filha de uma família de sete irmãos, que aproximadamente aos três anos de idade, por uma fatalidade da vida perdeu a mãe Laura, por complicações na gravidez do oitavo filho que também veio a falecer.


Seu pai Raimundo, conhecido também pelo apelido de "Pena Forte" (uma variação do nome de São Raimundo de Peñafort, Santo Catalão), vendeu tudo que possuía em Sambaqui por conta da morte da esposa, e voltou para Cacupé, onde morava sua família.

Zair então veio morar em Cacupé aos cuidados de sua Avó paterna Leonídia e suas tias. Por volta de um ano depois, seu pai casou-se com Leopoldina Pires da Cunha (Dona Pudica), posteriormente Leopoldina Pires Machado, que se doou totalmente à criação de Zair e seus irmãos mais novos.

Zair cresceu em Cacupé, fazendo renda de bilro e ajudando nas tarefas de casa, onde aprendeu desde pequena a arte da culinária da terra, além de pescar com seu pai para o sustento da família.

Em virtude de sua criação e educação, somadas às dificuldades da época, Zair se tornou uma mulher muito forte. Gostava muito de criar aves, em especial galinhas, e tanto sabia fazer um ótimo peixe ensopado como uma bela galinha ao molho pardo.

Era muito bonita na juventude, e numa canoa era exímia patroa (termo que os pescadores usam para o comandante da embarcação).

Saía de Cacupé em uma canoa a vela para qualquer lugar da região, desde o João Paulo para cuidar dos filhos de sua irmã Irene, ou até a Agronômica para pegar uma condução até o centro da cidade e fazer suas comprinhas com o dinheiro da renda de bilros e das galinhas que vendia, ou também para se divertir nas domingueiras da região com suas amigas.


Com todas essas qualidades, o jovem José Eliseu da Silva (mais tarde Zé do Cacupé), não perdeu tempo e a pediu em namoro, e antes de ir trabalhar em uma padaria em Santos (SP), prometeu ganhar um dinheirinho e na volta casar-se com ela.


Assim o fez, e cumpriu sua promessa, tendo alugado um terreno do Sr. João Domingos, onde abriu sua venda ainda solteiro no ano de 1951.
 

No mês de setembro de 1952, Zair e José Eliseu se casaram e então construíram uma vida juntos. Tiveram seis filhos: Cléia em 1953, José Carlos em 1955, Lourival em 1957, Cleusa em 1963, Renato em 1968, e Claudia em 1971.

Agora Dona Zinha era Dona de casa, mãe, primeira professora de todos os seis filhos, comerciante, e grande visionária ajudando a todos seus filhos a vencer na vida, como ela sempre dizia.

No começo da década de 1960 José Eliseu foi acometido de poliomielite e Zair ficou ainda mais atarefada, tendo que cuidar do marido enfermo, cuidar de três filhos pequenos, e do armazém da família, tarefa nada fácil pois ainda havia a necessidade de muitas vezes trazer, em uma canoa de Garapuvu, do centro da cidade mercadorias para comercializar.
 
Uma pessoa que não se pode deixar de mencionar e que veio agregar neste momento difícil, foi o senhor Elias Romão da Silva, o famoso Tilica, que a princípio viria ajudar por algum tempo e acabou ficando com a família por aproximadamente 40 anos, figura amável que ajudou a criar as crianças.

Em 1987, Dona Zinha e Seu Zé, utilizando de seu empreendedorismo, suas experiências de vida e força de vontade, idealizaram uma pequena lanchonete. O novo negócio seria direcionado ao seu filho Renato, que era office boy terceirizado do Gabinete de Planejamento do Estado de Santa Catarina e não estava feliz na profissão.

Renato então abraçou essa nova oportunidade e aceitou uma sugestão de alguns amigos: abrir um restaurante de frutos do mar ao lado da venda do Seu Zé, que era grande pescador e Dona Zinha, grande cozinheira. Com esse conjunto de fatores convergindo, nasceu o Restaurante Zé do Cacupé, onde Dona Zinha foi a primeira Chef de Cozinha e Chefe de tudo, pois colocou em prática ali todos os seus conhecimentos adquiridos na vida, já que Renato acabara de completar dezenove anos e tinha muito o que aprender.

Mais tarde, por vontade de Dona Zinha, o restaurante passou a se chamar Estrela do Mar, apesar de alguns anos depois voltar ao nome original. Renato lembra que saíam de madrugada de Cacupé em um Fiat 147 para fazer compras no Ceasa, e na volta era parada obrigatória no Mercado Público de Florianópolis para ver o que tinha de mais fresco e trazer para o restaurante.

Dona Zinha então descascava o camarão, escamava, posteava ou filetava o peixe, e ensinava tudo: desde escolher o pescado, ver se o balconista escorria a água do camarão para pesar, e pedir aquele descontinho. Muitas vezes também viajavam até Laguna para comprar camarão e siri, também no lendário Fiat 147.

Tudo isso faziam juntos por um motivo: ensinar o Renato a ganhar a vida. Durante sete anos ela chefeou o restaurante, e trouxe toda a família para ajudar, pois o ramo carecia de mão de obra, e naquela época não se tinha tanto traquejo na contratação de pessoas para laborar. Enquanto tudo isso acontecia, Seu Zé se dedicava à Venda que ficava ao lado do restaurante, e às relações públicas.

Em 1994 Renato se casou com a Berenice, sobrinha-neta de Dona Pudica. Dona Zinha se aposentou; não porque quisesse, mas por problemas de saúde e porque também já havia cumprido sua missão, que foi dar o exemplo da luta pela vida, pelos princípios, pela Fé em Deus, que transmitiu a todos os filhos.

Por tudo isso e por tantas outras coisas fazemos essa homenagem a esta mulher guerreira de verdade, que neste dia 1º de novembro de 2023 estaria completando 92 anos, falecida em 12 de julho de 2012, deixando seu legado de Fé, trabalho e perseverança a todos nós.

Como diz o ditado, ao lado de um grande homem há sempre uma grande mulher. Obrigado Dona Zinha, a senhora foi e sempre será lembrada por sua passagem em nossas vidas, Te Amamos.

Fique com Deus.